quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


FAÇAM SEUS JOGOS SENHORES.
J. Norinaldo

Jamais esqueci aquela noite, aquele homem, aquele jogo. Seis homens que mal se conheciam do cassino, sentados em volta de uma mesa redonda, forrada com um pano verde tendo no centro o brasão do cassino. Feições fechadas, não se movia um músculo daqueles rostos sisudos. Eu ganhara uma boa bolada noites atrás, agora não estava ganhando, também não perdia muito. Comecei a observar um dos jogadores, mesmo tentando disfarçar, parecia aflito, seu olhar refletia desespero. Arriscou duas vezes, talvez blefando, e se deu bem. A crupier, uma linda moça morena, alta de cabelos negros, olhos cor de mel, muito bonita e quase perfeita de corpo, digo quase perfeita, por não conhecer a mulher perfeita, devia ter 20 anos.
A moça deu as cartas, orelhei as minhas duas, e vi um par de Ases. Bom jogo, um par na mão é meio caminho e de ases então. Começaram as apostas. O mão abriu o jogo com 100 dólares, o seguinte dobrou, quase no fanal da rodada, alguém colocou 500 sobre a mesa, o ultimo era ele. Não pensou muito e atirou 2.000 dólares sobre o pano verde. Olhei para o lado e vi sua esposa, já os vira saindo do cassino numa madrugada fria, em um velho Ford, andava de um lado para outro também parecendo desesperada. Três dos jogadores jogaram suas cartas sobre a mesa que a bela crupier recolheu com a graça de quem é belo. Ficamos três que pagamos para ver o Flopy. A linda moça virou as três primeiras cartas, e vi: dois Ases e um quatro, portanto eu tinha um poker formado, o mais alto. Era minha vez de apostar. A moça de olhos de puma olhou para mim e perguntou: _Aposta señor? Bati com a mão na mesa, não apostava. O jogador seguinte pegou 10.000,00 dólares e colocou a frente da moça, que rapidamente recolheu e juntou ao poço. Todos pagamos a aposta e a moça virou as últimas duas cartas. Um quatro e um valete. Portanto eu jamais poderia perder aquela parada. Era a vez do apostador ao meu lado, este bateu na mesa passando, para meu desespero, vi aquele homem levar as duas mãos as suas fichas, e empurra-las em direção ao centro da mesa. Meu coração disparou meu vizinho, jogou as cartas na mesa, portanto a parada era entre nós dois. Novamente olhei minhas cartas, o máximo que ele poderia ter seria um fuland, nada mais, estava irremediavelmente perdido. Olhei para ele, que tentou sorrir para mim como a intimidar-me, porém não vi sorriso nenhum, aquilo mais parecia um pranto.
Pedi a Deus que mesmo se tratando de jogo, que me desse uma luz, e ele me atendeu, pois não tive tempo para pensar e joguei minhas cartas na mesa, me levantando e recolhendo as poucas fichas que me restavam. A felicidade que vi naquele rosto antes tão apreensivo, no momento valeu mais que os 50.000,00 dólares repousavam no centro da mesa. Apertou a minha mão, e senti a sua gelada e tremula, correu para abraçar a esposa aos gritos.
Sai dali, peguei meu carro e me recusei a pensar no meu gesto. Dane-se pensei, caso não valha nada, acho que não agi mal. Quem manda ficar colocando Deus em jogo pensei.
Cinco anos depois, me encontrava no Rio de Janeiro e faria uma viagem para Miami, quando já a bordo da aeronave, uma comissária de bordo me chamou a atenção pela beleza. Nossa que olhos, que boca e que corpo. Assim que o avião decolou e se estabilizou, a moça aproximou-se de mim, e como a poltrona ao lado estava vazia sentou-se. Num charmoso espanhol com aquela foz felina disse: _ Te busco a tantos años y ahora te quedas em mis braços. Tomei um susto. Seria louca. _Para donde vas? Ainda meio assustado respondi: Miami. E ali recebi um convite para ser hospede daquela deusa alada, que mesmo sem entender nada, preferia mil vezes abrir a porta e descer ali mesmo a 10 mil pés de altura, que recusar tal convite.
Marília Rocio era a crupier daquela rodada de Poker. Perdi 50.000,00, talvez tenha salvo uma vida e ainda ganhei a mais linda, mais meiga, mais carinhosa, mais tudo que pode ter de bom uma mulher, que hoje é mãe dos nossos filhos.
Claro, ela vira minhas cartas. Assim como, conhecia a situação daquele homem, que na verdade não era um jogador contumaz, apelara para o jogo como único recurso para salvar uma filha das drogas.

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